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Juntando country raiz, blues, folk e rock, o novo Rough and Rowdy Ways do cantor-compositor de 79 anos já é considerado obra-prima.
Bob Dylan lançou em junho um álbum só de canções inéditas. Essa notícia por si só já seria espetacular, mesmo que as músicas não fossem lá grande coisa. Mas como Dylan é sempre Dylan, a crítica mundial foi unânime ao classificar o trabalho como “obra-prima”, “clássico absoluto”, “testamento da eterna grandeza de Dylan”.
O 39º disco de estúdio do cantor/compositor nascido em Minnesotta, nos Estados Unidos, quebrou um silêncio de 8 anos de músicas inéditas, já que depois de Tempest, de 2012, Dylan lançou apenas dois discos de covers de Frank Sinatra (2015 e 2016) e Triplicate, um álbum triplo com regravações de clássicos americanos.
Aos 79 anos, o contador de histórias Robert Allen Zimmerman continua a impressionar com suas letras às vezes ácidas às vezes poéticas, cujo conjunto da obra lhe renderam até um prêmio Nobel de Literatura. Sua voz vai do feroz ao suave, como se tivesse “60 anos de poeira da estrada nos pulmões”, na definição da revista americana Rolling Stone. Musicalmente, Rough and Rowdy Ways, seu álbum, mostra Dylan em sua melhor forma, misturando estilos que marcaram sua carreira, como o country raiz de Nashville, o blues de Chicago, o rock & roll de Memphis.
Letras de muitas das canções do disco abordam temas do atual momento da história americana que podem passar batido pelos ouvintes brasileiros. Mas no geral emergem assuntos como quarentena, protestos nas ruas e outros. Ao longo do disco não faltam amargura e desilusão: “O que são estes dias escuros que vejo?”, desabafa no blues (meio sinistro) “Crossing The Rubicon”.
Os personagens de Dylan seguem os mesmos de seus 50 anos de estrada: andarilhos, pecadores, ladrões, falsos profetas. A épica “Murder Most Foul,” com quase 17 minutos, revive o assassinato do presidente John F. Kennedy, em 1963. O título da música foi pinçado de uma fala de Hamlet, a célebre peça de Shakespeare. mas o trágico evento dos Kennedys serve apenas como pano de fundo histórico para uma viagem musical declamada que cita Pink Floyd, a ópera-rock Tommy, a cantora de blues Etta James, os jazzmen Thelonius Monk, Oscar Peterson e Stan Getz. o roqueiro Little Richard e até Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, da banda Fleetwood Mac.
O espírito do Dylan bluseiro baixa em nas pesadas “Goodbye Jimmy Reed” e “False Prophet”. Fãs das boas e velhas baladas de Dylan vão vibrar com “I’ve Made Up My Mind to Give Myself to You”, “I Contain Multitudes” e “Mother of Muses”.
Quais faixas de Rough and Rowdy Ways vão se tornar clássicos do porte de “Blowin’ In The Wind”, “Like a Rolling Stone, “Just Like a Woman” e tantas outras? Só o futuro dirá.
Para quem ficou curioso a respeito da capa: a nostálgica foto foi tirada em 1964 em um antigo clube de Londres.
Rough and Rowdy Ways está disponível em todas as plataformas musicais, para venda ou streaming (clique aqui). Mas também pode ser ouvido na íntegra de graça no YouTube (ou baixado para quem sabe transformar os vídeos em mp3).