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Conheça as grandes reclamações masculinas sobre as parceiras: elas não tomam a iniciativa, são passivas demais, não curtem uma rapidinha e fazem greve de sexo.
A tal “guerra dos sexos” ficou no passado, mas a cama ainda é um campo de batalha entre homens e mulheres. Onde os dois lados não se entendem, o que faz explodir os conflitos. Os homens reclamam que querem mais sexo do que as parceiras, se queixam de que elas são pouco ousadas, pedem sexo anal, oral, novas posições. Mas como eles não costumam se abrir com os amigos sobre assuntos íntimos na mesa do boteco, desabafam nos consultórios dos psicólogos e terapeutas sexuais. Legítimas ou não, essas queixas frequentes revelam o descompasso sexual entre os casais.
Esse quadro de insatisfação faz parte do panorama desolador da sexualidade. Exemplo: 85% das mulheres não conseguem chegar ao orgasmo só com a penetração, enquanto os homens são totalmente focados no pênis e deixam as preliminares em segundo plano. As mulheres querem carícias, palavrinhas românticas, envolvimento emocional e os homens se contentam com uma rapidinha só para gozar.
Desde meninos somos criados sob o peso de dogmas, tabus e preconceitos que parecem nunca terminar, por mais que as décadas passem. O homem se sente pressionado a sempre tomar a iniciativa, a estar disponível para o sexo a qualquer hora, a ser responsável por levar a parceira às alturas no orgasmo, porque essas seriam condições indispensáveis para ser “macho” de verdade. Do outro lado, muitas mulheres ainda não conseguem superar o medo de se soltarem na cama e serem rotuladas de muito “liberadas”. Junte esses tabus com a falta de comunicação que se instala entre os casais e o resultado é insatisfação dos dois lados.
Para saber quais são as principais reclamações masculinas sobre o comportamento das mulheres na cama, Único ouviu a psicóloga e sexóloga Jussania Oliveira, autora dos livros Amor… Próprio e Relacionamento, Sexo e Ejaculação (no Instagram, @jussaniapsicosex). Veja as explicações da especialista.
Sou sempre eu que tomo a iniciativa para transar.
“Desde meninos, os homens são ensinados a serem conquistadores, caçadores. Porém quem não gosta de se sentir cortejado, desejado quando a parceira toma a dianteira? Muitas mulheres ainda se sentem constrangidas a buscar sexo quando têm vontade. Às vezes, até se reprimem por temer demonstrar abertamente seu desejo, se mostrarem muito ativas e liberadas e intimidar o parceiro, por assumir a iniciativa que ele acredita deva partir do homem. Elas precisam superar esses tabus para poder dar expressão à sua sexualidade.
É comum nos relacionamentos o homem se ressentir dessa falta de demonstrações de tesão por parte da parceira. Se a acomodação feminina se estende por muito tempo, ele começa a se questionar o porquê de não corresponder sexualmente à expectativa da companheira. E acaba se sentindo culpado.
Numa relação saudável, cada um conhece o timing sexual do outro e isso é conversado abertamente. A mulher não se intimida a dar o primeiro passo para a transa e o homem não considera o avanço como excesso de atrevimento”.
Quero fazer sexo com muito mais freqüência do que ela.
“Parece incrível afirmar em pleno século 21 que os homens precisam de mais sexo do que as mulheres, pois nunca foi verdade que a libido masculina é mais “ativa” do que a feminina. Mas esse descompasso continua sendo uma grande queixa masculina. O instinto sexual se manifesta na mesma intensidade em ambos os sexos, mas cada pessoa tem seu nível de necessidades sexuais. Não há nada errado em querer transar todo dia ou, por outro lado, apenas uma vez por mês. Basta que o(a) parceiro(a) também compartilhe a mesma necessidade.
Na questão da frequência, a diferença é que os homens priorizam a quantidade em detrimento da qualidade. A maioria encara o sexo de uma maneira mais “ampla”, por assim dizer, do que as mulheres. Uma rapidinha é suficiente para aliviar o estresse, descarregar a tensão e até como afirmação de masculinidade, de ser um cara sexualmente ativo. O homem quer se enquadrar em padrões que acredita ser inerentes ao conceito de macho, como fazer sexo o maior número de vezes possível, com o maior número de parceiras. Enquanto a mulher prefere o sexo mais elaborado, com maior envolvimento emocional. Essa é muitas vezes o motivo do descompasso entre a vontade de cada um”.
Ela não gosta de fazer sexo anal.
“No Brasil a bunda é preferência nacional masculina, assim como os norte-americanos valorizam os seios. Entretanto, muitas mulheres resistem à prática do sexo anal por medo de sentir dor ou por preconceito, considerando-o degradante ou não condizente com sua posição de esposas ou namoradas. Algumas até tentam, mas se entregam tão cheias de inibições, com a musculatura tão tensa, que fatalmente sentem desconforto.
Muitas vezes o despreparo do homem é o culpado pela rejeição. Ele não sabe criar o clima, deixar a parceira relaxada, não age com delicadeza, não prepara o “terreno” com lubrificante. Como toda prática sexual que se introduza no sexo, há que ter um preparo, tanto físico quanto psicológico. Ou não vai rolar mesmo”.
Tenho que pedir sexo oral, porque ela nunca faz espontaneamente.
“Para o homem o sexo é focado no pênis, então ele valoriza tremendamente aquela chupadinha básica. Mas muitas mulheres resistem bravamente ao sexo oral, não gostam do sabor ou do cheiro do pênis, têm medo de doenças ou receiam que o homem ejacule em sua boca. Entre as que gostam, é consenso que o pênis esteja limpinho, cheiroso, mas há homens que descuidam totalmente da higiene, por achar que basta abrir o zíper e está tudo certo.
Há mulheres que praticam a felação só para agradar o parceiro, quase como obrigação. Aconselho que o homem tente convencer a parceira de que ela pode sentir realmente prazer nessa prática, até por ficar excitada ao agradar ao homem.
Outro problema é que alguns homens pedem mais sexo oral, mas em contrapartida se mostram pouco dispostos a retribuir (o que é uma queixa feminina frequente). As mulheres reclamam que os parceiros praticam o cunnilingus durante segundos, só para que elas retribuam em seguida”.
Ela não gosta de dar uma rapidinha.
“A rapidinha ocasional pode ser tão prazerosa para a mulher quanto para o homem. O que as mulheres não querem é que o sexo pá-pum vire rotina. Elas reivindicam carícias, palavras carinhosas e o ritual de preliminares durante o tempo necessário para se excitar, enquanto o homem se contenta com a rápida penetração. Alguns homens só querem ejacular e, se pudessem, viveriam da rapidinha, sem se preocupar se suas parceiras cheguem ao orgasmo.
Uma mulher pode até gostar de sexo rápido uma vez ou outra, principalmente se a prática envolver fantasias, como transar em lugares públicos, por exemplo. Mas sem o “aquecimento” proporcionado pelas preliminares, a rapidinha pode se tornar uma experiência frustrante para ela”.
Quero ser comandado na cama de vez em quando.
“Tem horas em que os homens se cansam de “pilotar” e esperam que a mulher assuma o controle do voo no sexo. Mais ainda: querem surpresas. Algo como deitar na cama e colocar as mãos na nuca, como quem diz “hoje é com você”. O problema é guardar esse segredo a sete chaves. Caíram muitos tabus, mas os homens foram educados para o papel de comando na cama e, as mulheres, ensinadas a não avançar muito.
É bem difícil numa relação casual o homem adotar de cara essa atitude submissa, porque foi ensinado a “conduzir” o sexo, mas num relacionamento de longa duração cada um deve ter oportunidade de tomar a dianteira. Assim ninguém se cansa de seu papel. Quer deitar na cama e deixar que ela execute o serviço? Não tem problema, basta pedir. Saber se comunicar e negociar facilita a vida”.
Ela não gosta de sexo pela manhã.
“Costuma ser excitante para o homem acordar com uma ereção matinal, com meio caminho andado para uma transa rápida. A maior parte das mulheres, porém, desperta sem muito estímulo para a atividade sexual. Além disso, elas precisam de mais tempo e preliminares para se excitar, o que geralmente compromete a rapidinha que os homens querem de manhã.
Às vezes, até que ela se excite a ereção já foi embora. Muitas mulheres só se sentem mais disponíveis para o sexo à noite, quando já conseguiram relaxar dos afazeres do dia. Mas em resumo gostar ou não de sexo matinal é apenas uma questão de ajuste de sintonia do casal”.
Ela não sabe explorar meu corpo do jeito que eu gostaria.
“Alguns homens reclamam das limitações do repertório das parceiras na cama. Por outro lado, a grande maioria masculina é 100% focada no pênis, a ponto de nem tentar descobrir outras zonas erógenas do próprio corpo. E elas são muitas: os mamilos, a parte interna das coxas, a bunda, os pés e a região do períneo, entre os testículos e o ânus.
Se o homem não conhece seu próprio corpo, como querer que a parceira o conheça? Às vezes, é ele que não sabe pedir uma carícia diferente. Se solicitada, a parceira certamente corresponderia, mas ela não toma a dianteira nesse tipo de atitude por medo de parecer “saidinha”. Acontece também de uma mulher começar a tocá-lo em algum lugar do corpo e ele conduzir a carícia para o pênis, o centro do seu prazer.
É também comum o homem não se permitir experimentar novas formas de prazer, repudiando carícias mais ousadas ou inusitadas. Muitos se apavoram só de pensar em sentir tesão com apalpadas na bunda, por achar que isso coloca em xeque sua masculinidade.
O desconhecimento daquilo que agrada ao outro é basicamente um problema de falta de comunicação na cama. Ele acha que ela sente prazer na vagina, nos seios e nas nádegas, enquanto que ela se concentra no pênis. E fica por isso mesmo”.
Ela não curte experimentar novas posições.
Muitos homens reclamam que a parceira se contenta com o papai e mamãe e olhe lá, enquanto eles adorariam experimentar uma por uma as posições do Kama Sutra. De fato, algumas mulheres se intimidam em se mostrar “inovadoras” na cama, por temer intimidar o parceiro. É o famoso temor feminino de se mostrar “atiradinha”. Mas primeiramente o homem precisa se auto-questionar se está sendo mesmo um bom amante. Será que ele sabe seduzir a parceira a compartilhar com ele essa necessidade de inovar? Quando uma mulher se sente motivada, com desejo, se aventura a novas experiências.
Há homens que costumam ser muito pouco ousados com a parceira usual. Com outra mulher, como uma prostituta, amante ou garota mais nova, sentem-se encorajados à experimentação e então concluem, erroneamente, que o problema é da esposa”.
Ela faz greve de sexo quando brigamos ou discutimos.
“Como o homem dá extrema importância ao sexo, há mulheres que usam as relações sexuais como moeda de troca. Botam o parceiro de “castigo”, se houve uma briga ou discussão, ou capricham na produção quando um interesse delas está em jogo. Como a mulher sabe o quanto o sexo é importante para o parceiro, manipula como forma de exercer domínio sobre ele.
É comum também que, quando surge um conflito entre o casal, o homem separe o sexo da briga. Ele acha que a relação sexual não tem nada a ver com o problema, enquanto a mulher pensa o contrário e quer resolver a diferença antes de ir para a cama. O homem também apela para o “sexo de reconciliação”: ele se aproxima da parceira fazendo carinho querendo acertar as diferenças na cama”.
Não consigo saber se ela realmente teve orgasmo.
“Os homens se sentem frustrados por serem incapazes de identificar o orgasmo feminino, a não ser quando ela fala. Essa é uma preocupação típica do cara que mede seu desempenho pela satisfação da mulher. O homem precisa aprender que orgasmo feminino não é responsabilidade exclusiva dele: depende também da mulher saber como se excitar. Muitas mulheres não conhecem seu próprio corpo, as áreas de prazer e, consequentemente, não conseguem comunicar suas vontades ao parceiro.
Os homens são ensinados que é sua obrigação saber dar prazer às mulheres, e elas delegam a eles o “encargo” de conduzi-las ao orgasmo. Nessa concepção, não conseguir fazer a mulher gozar é um atestado da falta de habilidade do homem, apesar de que o problema possa ser exclusivo dela. Além disso, hoje elas se sentem pressionadas a ter não só um orgasmo, mas sim vários, múltiplos, a ponto de isso virar obsessão. Muitas atribuem ao parceiro a inabilidade de as fazerem ter orgasmos ininterruptos durante toda a transa.
A bem da verdade, um homem não vai conseguir saber nunca se a mulher gozou, pois ela é capaz de simular o orgasmo gemendo e contraindo a musculatura vaginal. O mais importante é que haja confiança e comunicação entre os parceiros”.
Ela não quer transar comigo e com uma outra mulher.
O sexo a três é uma das maiores fantasias masculinas, tanto dos héteros quanto dos gays. No caso dos heterossexuais, é grande a excitação simplesmente em adotar a posição de voyeur e observar duas mulheres se beijando e acariciando. Essa fantasia também está ligada à satisfação de se achar bom de cama, de dar conta de duas mulheres. Muitos tentam convencer suas esposas ou namoradas a considerar a possibilidade.
A coisa complica na vida real porque a relação precisa ser muito sólida para não se abalar. Esposas e namoradas temem despertar o desejo de envolvimento ou romance do companheiro com a outra mulher, mesmo se for uma prostituta. Geralmente as mulheres que topam a brincadeira são as que buscam o prazer desvinculado da relação afetiva e se mostram dispostas a novas experiências sexuais.
Outra questão é que elas se mostram abertas para essa prática apenas enquanto não existem laços fortes com o parceiro. Se o relacionamento se estreita e vai havendo maior envolvimento, já não aceitam com a mesma tranqüilidade. Mas como consideram sua fantasia algo “natural”, os homens acreditam que as parceiras deveriam concordar simplesmente para agradá-los. Precisam se colocar do lado feminino e avaliar como reagiriam à vontade da parceira de ir para a cama com ele e mais um homem.
Muitas vezes é tabu no relacionamento conversar abertamente sobre fantasias sexuais, tanto dele quanto dela. Ignorar e colocar embaixo do tapete desejos reprimidos pode prejudicar a realização sexual do casal”.
Ela não sente prazer do jeito que minhas outras mulheres sentiam.
“Muitos homens criam “roteiros” de performance na cama, como se fossem atores pornô, e se frustam quando a atuação não funciona com alguma mulher. Alguns não entendem que cada uma tem suas preferências. Na verdade é o cara que não sabe explorar o corpo da parceira para descobrir o que pode ser prazeroso para ela.
Certos caras costumam ser monótonos e repetitivos na cama e não são capazes de reconhecer suas limitações. Alguns tiveram duzentas, trezentas mulheres e fizeram com elas sempre o mesmo sexo mecânico. Acreditam ser especialistas em sexo mas na são verdade amantes de segunda categoria. O homem se acha tão gostoso que crê ser impossível que a mulher não gostam do que ele faz, já que tantas outras gostavam. Ele acha que a parceira atual tem problemas, pois ele não pode estar equivocado.
Também há homens que tratam suas parceiras da forma que eles gostam de ser tratados, com força, por exemplo, enquanto que elas esperam mais delicadeza e sensibilidade. Ou ao contrário”.
Ela espera que eu adivinhe o que ela gosta e a excita.
“Essa reclamação também está ligada aos papéis sexuais que a sociedade impõem aos dois sexos, o do homem “ativo” e da mulher “passiva”. Educadas para adotar uma atitude receptiva na cama, muitas mulheres não expressam seus desejos. Sua preocupação é a reação do parceiro, temendo que ele interprete suas vontades como reclamação ou cobrança, o que abalaria sua convicção de “masculinidade” e afetaria o relacionamento.
O mecanismo de adivinhar o pensamento do outro é uma distorção de comunicação comum nos relacionamento sexuais. O homem não pergunta o que sua parceira gosta, achando que ela espera que ele saiba o que fazer. A mulher, por sua vez, considera que seu prazer é responsabilidade do homem e crê que não precisa comunicar suas vontades, nem conduzi-lo pelos caminhos do prazer.
O fato é que, devido à educação repressora, muitas mulheres não conhecem o próprio corpo, não sabem o que as excita, nem onde gostam de ser tocadas. Então dependem que o parceiro faça a descoberta. À medida, porém, em que vai descobrindo o prazer, a mulher é capaz de superar medos e tabus e aprende a se colocar de maneira mais afirmativa no sexo”.
Fotos: Deposit Photos